terça-feira, 3 de março de 2009

Aquiles

Estátua de Aquiles

Aquiles é um semi-deus da mitologia grega, considerado o guerreiro mortal mais forte e talentoso que já existiu.

O centauro Quíron encarregou-se da educação do jovem. Alimentou-o com mel de abelhas, com medula de ursos e de javalis e com vísceras de leões. Ao mesmo tempo, iniciou-o na vida rude, em contato com a natureza; exercitou-o na caça, no adestramento dos cavalos, na medicina, na música e, sobretudo, obrigou-o a praticar a virtude. Aquiles tornou-se um adolescente muito belo, loiro, de olhos vivos, intrépido, simultaneamente capaz da maior ternura e da maior violência.

Peleu deu ainda ao seu filho um segundo preceptor, Fénix, um homem de grande sabedoria, que instruiu o príncipe nas artes da oratória e da guerra. Juntamente com Aquiles, foi educado Pátroclo, seu amigo, filho do rei da Lócrida, Menécio.

Aquiles era ainda adolescente quando teve início a guerra de Tróia. O adivinho Calcas, porém, depois de consultado, informou que a cidade inimiga só seria destruída com a ajuda de Aquiles.

Apavorada, Tétis tratou de disfarçar o seu filho de mulher e o enviou para a corte do rei Licomedes, na ilha de Ciros, para que ele fosse educado no harém, junto das princesas, disfarçado com o nome de Pirra (a loura).

Entretanto, os gregos enviaram Ulisses como embaixador à corte de Peleu, afim de que ele trouxesse o indispensável Aquiles, mas como este não foi encontrado, recorreram a Calcas, que lhes revelou o embuste. Ulisses se disfarçou, então, de mercador e dirigiu-se ao palácio de Ciros, conseguindo entrar no gineceu. Ele expôs, perante os olhos maravilhados das princesas, os mais ricos adornos. Mas, entre os tecidos e as jóias, estava escondida uma espada. Ao vê-la, a pretensa Pirra a empunhou imediatamente, precipitando-se para fora do palácio com a arma na mão e revelando, assim, o seu sexo e a sua natureza impetuosa.

Entretanto, uma das filhas de Licomedes, que já há muito tempo conhecia a verdadeira identidade de Aquiles, apresentou-se grávida, mas o nascimento do seu filho só acontecerá após a partida do herói. Este recebeu o nome de Neoptólemo e o cognome de Pirro (masculino de Pirra).

Ulisses conduziu então Aquiles para junto de seus pais. Tétis, assustada com o insucesso do seu estratagema, fez insistentes recomendações a seu filho: a sua vida seria tanto mais longa quanto mais obscura ele a mantivesse. Mas Aquiles recusou os conselhos de sua mãe. Nada lhe importava mais do que o brilho da glória e, por mais que os oráculos previssem a sua morte em Tróia - como consequência de ter matado um filho de Apolo - ele não descansou enquanto seu pai não lhe concedeu um exército e uma frota. Peleu dotou-o então com cinqüenta navios e confiou-lhe as armas que os deuses lhe tinham oferecido no dia do seu casamento. Aquiles partiu, levando consigo o seu fiel preceptor Fénix, assim como também, o seu fiel e inseparável amante Pátroclo (que naquela guerra se tornaria seu companheiro de armas).

Aquiles em guerra

No decorrer do desembarque, efetuado por engano na Mísia, que os gregos confundiram com Tróia, Aquiles feriu com a sua lança o rei do país, Télefo, filho de Héracles (ou Hércules). Mais tarde, no entanto, graças aos seus conhecimentos de medicina, curou-o.

Regressados ao porto de Élis - oito anos mais tarde - para se reagruparem após esta expedição fracassada, os gregos foram imobilizados pela calmaria dos ventos. Agamémnon, o chefe do exército, tendo sabido através do oráculo que os ventos não soprariam a não ser que sacrificasse a sua filha Ifigénia, imaginou que a melhor maneira de a atrair, sem suspeitas, seria propondo-lhe casamento com Aquiles. Quando o herói teve conhecimento do embuste em que fora envolvido sem saber, censurou violentamente o "rei dos reis": e esta será a primeira querela com Agamémnon.

Após o cumprimento do sacrifício de Ifigénia, os deuses permitiram aos ventos que soprassem, e assim a frota grega pôde navegar, fazendo escala na ilha de Tenedo, ao largo de Tróia. O rei da ilha, Tenes, ter-se-á simplesmente oposto ao desembarque dos gregos ou terá tentado antes proteger a sua irmã das intenções de Aquiles? Qualquer que seja a resposta, a verdade é que ele foi morto pelo herói. Mas acontece que Tenes era filho de Apolo, e embora Aquiles lhe tenha prestado um serviço fúnebre cheio de pompa, não podia, todavia, escapar ao destino que lhe tinha sido traçado.

Durante dez anos, gregos e troianos estiveram envolvidos em escaramuças sem grandes consequências. No decorrer deste período, os invasores aproveitaram para efetuar expedições de pirataria nas ilhas e cidades vizinhas de Tróia. Podemos destacar, entre elas, a incursão na Mísia, em que Aquiles matou o pai de Andrómaca, Eécion, e os seus sete filhos, enquanto Agamémnon se apoderou da filha do sacerdote de Apolo, Criseida e, ainda, a expedição a Lirmesso, onde Aquiles capturou a bela Briseis, que tornou sua serva.

A cólera de Aquiles

No decurso do décimo ano de guerra, Aquiles e Agamémnon envolveram-se em grande disputa. Tudo isto porque, como Agamémnon se vira obrigado a libertar a filha do sacerdote, Criseida, exigiu como compensação a serva de Aquiles, Briseis. Injuriado e furioso, Aquiles decidiu abandonar a guerra e retirou-se para o seu acampamento, pondo assim em causa a possível vitória dos gregos. A história da coléra de Aquiles, em Tróia, é o tema da Ilíada, a obra mais lida de toda a Antiguidade, que é responsável pela enorme notoriedade do herói grego.

A situação dos gregos não tardou a tornar-se aflitiva. Pátroclo, sem a autorização de Aquiles furta-lhe a armadura e vai para o campo de batalha onde acabou por encontrar a morte às mãos de Heitor, marido de Andrómaca, o mais valente dos filhos do rei Príamo (verdadeiro herói da Ilíada, subtendido por Homero).

Enlouquecido de dor pela perda de seu amante-amigo e primo, Aquiles saltou sem armas para o campo de batalha produzindo um bramido demente que o exército troiano achou se tratar de um louco insano. A sua contenda com Agamémnon fora esquecida, pois agora Aquiles só pensava em vingar-se da morte de Pátroclo.

E é Heitor quem Aquiles persegue com seu ódio e é ele quem pretende sacrificar em homenagem a Pátroclo. Certo dia, ao acaso da guerra, Aquiles encontra-se com Heitor no campo de batalha derrotando-o num combate extenso e singular, matando-o somente após uma topada numa pedra a luz de um Sol escaldante (topada a qual desorientou todos os sentidos do guerreiro troiano). Depois, desrespeitando a ética dos rituais fúnebres dos vencidos em combate, prendeu o cadáver ao seu carro e deu a vergonhosa volta às muralhas de Tróia, onde só largou o corpo ensanguentado e desfeito do honrado Heitor quando o já velho rei Príamo lhe veio suplicar indulgência.

A tradição pós-homérica acrescentou, ainda, outros feitos atribuídos a Aquiles. Entre estas, pode-se destacar a sua luta contra a rainha das amazonas, Pentesileia, que veio com as suas tropas em socorro dos troianos e perdeu a vida às suas mãos. No último momento, quando Aquiles viu o rosto da sua vítima inflamado por uma súbita e impossível paixão, chorou sobre o seu corpo.

Relata-se, igualmente, o seu encontro com Mérnnon, filho da Aurora, que terminou com a morte do troiano, e foi uma fonte inesgotável de lágrimas para sua mãe.

A morte de Aquiles

Apesar da valentia e dos feitos de Aquiles, a fatalidade não podia deixar de acontecer. A morte do grande herói da Antiguidade é apresentada numa versão que relata que ele morreu ferido no calcanhar por uma flecha certeira, poderosa e assassina, atirada pelo príncipe Páris em combate quando tentava resgatar Briseis para si (prima dos príncipes de tróia, mulher por quem se apaixonou). Páris, nesse ato, consegue vingar-se da morte de seu irmão Heitor e simultaneamente vinga a morte do filho do deus Apólo, Tenes.

Aquiles, após a morte, recebeu a justa recompensa por toda uma vida de feitos heróicos e de combates. Zeus, a pedido de Tétis, conduziu-o à ilha dos Bem-aventurados, onde ele casou com uma heroína (cita-se Medeia, Ifigénia, Polixeria, e mesmo Helena: da sua união com esta, teria nascido um filho alado, Euforião, que é identificado com a brisa da manhã).

Na Antiguidade, Aquiles foi venerado como o modelo de herói por excelência. Um herói simultaneamente belo, robusto e corajoso, que tentou sempre elevar-se acima da sua simples condição de mortal. Os estóicos, no entanto, condenaram o seu temperamento violento, muitas vezes escravo das suas paixões. Por isso, ele foi venerado em todo o mundo grego, embora o centro do seu culto se tenha fixado nas margens do mar Negro. Confirma-se que o seu túmulo se encontrava numa ilha deste mar, a ilha Branca (Leuké), igualmente chamada "Aquileia".

As obras literárias em que Aquiles aparece como herói são abundantes. Para além da Ilíada e da Odisseia - onde acompanhamos a vida de Aquiles no Inferno -, podemos destacar, ainda, a Ifigénia em Áulis, tragédia de Eurípides, "imitada" mais tarde por Racine (1674) e transformada em ópera por Gluck (1774), O Aquileide, poema épico de Stace, etc.); e as artes plásticas (pinturas de vasos, esculturas, etc.) deleitam-se sempre (cf. telas de Rubens, Teniers, Ingres, Delacroix) com as suas múltiplas façanhas.

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